quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Materiais ecológicos e bioconstrução

Das várias estratégias e opções que deverão entrar em linha de conta na concepção de um projecto de arquitectura sustentável a escolha dos materiais a utilizar tem um peso muito importante.
Analisando várias condicionantes e critérios podemos concluir que os materiais mais sustentáveis são os que:
- procedem de fontes renováveis e abundantes;
- não contaminam;
- não põe em risco a saúde do utilizador;
- são recicláveis ou biodegradáveis;
- consomem pouca energia no seu ciclo de vida;
- são duradouros;
- são de aplicação prática e rápida;
- procedem de produção justa;
- procedem de um local perto da obra;
- têm valor cultural no local da sua aplicação;
- têm baixo custo económico.

Por exemplo, materiais como a palha e a terra crua, disponíveis em abundância na natureza e com uma tradição ancestral rica em técnicas viáveis e duradouras são uma boa aposta para uma construção ecológica. A construção em fardos de palha difundiu-se nos Estados Unidos no final do século XIX. Hoje em dia é uma técnica que se pratica no mundo inteiro estando no caso europeu mais desenvolvida na Alemanha, Inglaterra, Áustria e Suiça.
A construção em terra crua, utilizada em todo o mundo, remonta a tempos imemoriais e pratica-se em diversas técnicas, sendo as mais comuns a Taipa, o Adobe, o BTC (blocos de terra comprimida). Em Portugal, com particular incidência no Sul, é frequente encontrar-se edifícios em Taipa, alguns deles centenários como é o caso do castelo de Paderne no Algarve. Esta técnica consiste na compressão da terra (devidamente preparada) em moldes denominados taipais. Actualmente, já existem alguns arquitectos portugueses que dão sequência à tradição reinventando a técnica de forma a melhorá-la e modernizá-la tirando partido das suas inúmeras vantagens.
As vantagens comuns a estes dois materiais – palha e terra – são: a sua disponibilidade em abundância e perto do local da obra; não consumirem praticamente energia na sua produção; poderem ser utilizados de forma auto-portante, sem recorrer a uma estrutura adicional; terem excelente comportamento térmico com a consequente economia de energia para arrefecer ou aquecer o interior da construção; serem duradouros; serem baratos gastando-se pouco ou nenhum dinheiro nos materiais e mais na mão-de-obra humana permitindo a criação de mais postos de trabalho localmente; serem degradáveis na natureza, reduzindo ao máximo a pegada ecológica pois quando termina o ciclo de vida destas construções os materiais simplesmente voltam para donde vieram, com as mesmas características, podendo o ciclo ser reiniciado.

Ampliando a consciência…

Actualmente, na União Europeia, a construção de edifícios consome 40% dos materiais, gera 40% dos resíduos e consome 40% de energia. Estes dados estatísticos falam-nos de um sector com enorme impacto sobre o meio económico, ecológico e social, confirmando em definitivo que se trata de um sector INSUSTENTÁVEL onde é urgente a mudança de comportamentos.
Se algo nos ensina a história da construção é que o ser humano sempre levou muito em conta a envolvente ambiental em que se encontrava e os materiais naturais à sua disposição no local, não utilizando um modelo tipificado de construção.
Com o passar dos tempos, os avanços tecnológicos desviaram as nossas sociedades de tão notável adaptação. Do século XX à actualidade observamos que as características construtivas bem como os materiais utilizados se convertem em algo semelhante em qualquer parte do mundo, independentemente do clima e dos recursos disponíveis localmente. Nas nossas sociedades fortemente industrializadas, reina o mito da ciência e da técnica como garantia de todos os problemas e a total inconsciência na utilização de recursos que se julgam inesgotáveis. Afastámo-nos da benéfica e saudável interacção com a Natureza.
Cabe-nos a todos, que somos uma parte, um fio da trama da vida questionar este tipo de realidade desarmónica e pôr-lhe um ponto final. E passa mesmo por todos nós, incluindo-me e incluindo-te pois a subserviência, a auto-limitação, a inconsciência e a aceitação do modelo de realidade que nos impuseram faz-nos pactuar diariamente com os que criaram tais modelos.
Com esta consciência ampliada só faz sentido que o futuro da construção se imponha sustentável. Adaptando-se respeitosamente à Natureza, às energias do terreno e ao clima, poupando recursos, poupando energia, utilizando energias renováveis, reduzindo ao máximo a pegada ecológica, utilizando o conhecimento e a tecnologia ao nosso dispor de forma inteligente e contando sempre com a saúde, o conforto e a felicidade dos utilizadores.